
on the coast of Rio de Janeiro.
Relatamos aqui parte das atividades desenvolvidas pela equipe de pesquisadores do Laboratório de Processamento de Imagem Digital (LAPID) com o objetivo de proporcionar a difusão através do metaverso das atividades de ensino e pesquisa desenvolvidas com o acervo científico-cultural do Museu Nacional/UFRJ. Essas atividades estão diretamente relacionadas à vinculação do LAPID ao Projeto Space-XR: Pesquisa em Metaversos Compartilhados, que envolve, ainda, o Laboratório Biodesign vinculado à PUC-Rio, além do Visgraf, Instituto de Matemática Pura e Aplicada-IMPA/MCTI. Nesse projeto o LAPID atuou na coordenação da linha denominada Patrimônio Científico-Cultural.

As atividades desenvolvidas nessa linha tiveram início com a escolha dos dispositivos de mediação e da plataforma de disponibilização dos dados. Optamos pelos óculos de Realidade Virtual Quest 2 devido, principalmente, à praticidade de uso do equipamento, pois esse modelo (ao contrário de outros dispositivos anteriormente testados) não precisava de conexão física através de cabos com fontes de dados (desktop) ou energia (alimentação externa). O Quest 2, além de custo mais acessível, é relativamente pequeno, leve e razoavelmente confortável, adaptando-se adequadamente ao uso físico, especialmente quando comparado aos similares disponíveis (Obs: como todo dispositivo de avanço tecnológico, os óculos de realidade virtual encontram-se em franco desenvolvimento e alternativas estão surgindo constantemente, como o recente lançamento do Quest 3, Quest Pro e outros dispositivos de intermediação).
Concomitantemente, em colaboração com os colegas do Projeto Space-XR (https://space-xr.com/), passamos a analisar as possíveis plataformas virtuais (VELHO et al., 2022). Assim, em função de suas particularidades, a plataforma inicialmente escolhida foi a Spatial (Spatial.io) .
Espaços virtuais
Nosso primeiro contato com essa realidade (virtual) se deu através do espaço denominado XR Showcase e seu paralelo XR Meeting Point, ambos na plataforma Spatial, onde, semanalmente, realizamos nossas reuniões do projeto Space-XR, fonte inesgotável de troca de experiências e informações. O passo seguinte foi a inclusão de nossos arquivos digitais (tratados em aplicativos como Photoshop, ZBrush, Blender, etc...) em modelos (templates) disponibilizados pela plataforma Spatial e, posteriormente, a customização de nossos próprios espaços.
A seguir, passamos a apresentar os principais espaços criados dentro dessa iniciativa, sempre com a colaboração e sugestões dos colegas do Space-XR:
Lapid Meeting Room: montado no template Boardroom do Spatial e seguindo a linha do XR Meeting Point, esse espaço foi criado para reunir a equipe de Laboratório de Processamento de Imagem Digital (LAPID) em suas reuniões de trabalho em ambiente virtual em decorrência das limitações de mobilidade impostas pela pandemia de Covid19. O ambiente foi posteriormente realocado em função de restrições impostas pela Plataforma Spatial, passando a se chamar Lapid Meeting Room 2.
LAPID Park: modelado em ambiente customizado, o espaço é destinado a apresentar as múltiplas áreas de atuação do LAPID, especialmente nos campos da Paleontologia, Geologia, Arqueologia, Egiptologia, Meteorítica, Zoologia, Ecologia, Artes, Dança, entre outros. Serve, portanto, como um showroom para as atividades já realizadas e como ponto de partida e acesso a todos os outros espaços criados pelo laboratório. O espaço está organizado em diversos pavimentos, cada um com uma temática, além de um módulo central onde os visitantes podem saber mais sobre o LAPID. É possível entrar numa caverna, onde se encontra o pavilhão da Paleontologia e Geologia, ou viajar numa cápsula que leva os visitantes por um passeio pelo céu até o espaço, onde fica o pavilhão astronômico. Os pavilhões e sua disposição foram criados tendo como inspiração o formato de octaedro do logotipo do laboratório.
Megafauna do Quaternário da Bahia: montado em template Outdoors do Spatial, esse espaço tem por objetivo apresentar modelos tridimensionais da megafauna brasileira além de diversas informações de cunho paleontológico sobre esses fósseis.
Tartaruguito: modelado em ambiente que reproduz a digitalização tridimensional do afloramento fossilífero conhecido como Tartaruguito, localizado em Pirapozinho (São Paulo). Os visitantes podem caminhar virtualmente pelo afloramento. Painéis e modelos 3D adicionais apresentam informações sobre o trabalho dos paleontólogos do Museu Nacional na localidade.
Grillo’s Memories and Works: desenvolvido no template Obsidian Gallery do Spatial, esse espaço apresenta um resumo dos projetos nos quais o pesquisador Orlando Grillo participou, entre eles projetos de Paleontologia, Geologia e Meteorítica, bem como resultados de sua linha de pesquisa em biomecânica e trabalhos de digitalização 3D de grandes estruturas naturais como o Monumento Natural das Ilhas Cagarras e o costão rochoso de Arraial do Cabo.
Lobo’s Gallery: desenvolvido no template Isle Gallery do Spatial, esse espaço apresenta um resumo dos projetos que o pesquisador Leonardo Lobo desenvolveu, abrangendo aspectos principalmente relacionado à paleomastozoologia.
Galeria LAPIDVR: em mais uma tentativa de customizar um ambiente, agora em desenho arquitetônico inédito, o espaço apresenta duas exposições intimamente correlacionadas. A primeira, ocupando o anel externo da sala, é intitulada “Na Alegria e na Tristeza” e apresenta imagens e vídeos obtidos por Sergio Azevedo e sua esposa e companheira de vida, Luciana Carvalho durante o trabalho conjunto na Equipe de Resgate de Acervos do Museu Nacional. A segunda mostra, disponibilizada no salão central da galeria, é intitulada “Mãos do Resgate” e apresenta, através de fotografias de Marcos Gusmão, Sergio Azevedo e Luciana Carvalho, as mãos dos membros da equipe de Resgate de Acervos no seu árduo trabalho de resgatar as peças após o incêndio. A galeria é apresentada em ambiente (skybox) que retrata a Quinta da Boa Vista, no bairro Imperial de São Cristóvão - RJ, local onde o Palácio Imperial, sede principal do Museu Nacional, está localizado.
Expo Resgate - Marcos Gusmão: montado em template Aeries Gallery do Spatial e desenvolvido com o objetivo de apresentar imagens do fotógrafo Marcos Gusmão obtidas no acompanhamento dos trabalhos da Equipe de Resgate de Acervos do Museu Nacional/UFRJ após o trágico incêndio de setembro de 2018.
Formatae ignem: montado no template Isle Gallery do Spatial: esse espaço constitui uma mostra que mescla arte e memória ao apresentar formas geradas pela ação do fogo durante o incêndio que atingiu o Museu Nacional em setembro de 2018. As peças constituídas por metal, vidro, madeira, plástico, etc., foram coletadas durante o trabalho da Equipe de Resgate de Acervos do Museu Nacional. A montagem dessa exposição teve para os organizadores forte impacto psicológico no sentido de resgatar e reinterpretar formas de um ambiente tão caro, onde convivemos durante mais de 30 anos, impedindo, assim, que tudo fosse acabar nos depósitos de lixo.
Núcleo de Conservação: modelado em ambiente customizado, o espaço apresenta distintas etapas de recuperação de peças do acervo científico e arquitetônico do Palácio de São Cristóvão após o incêndio.
Museum of Ashes – Vik Muniz: a primeira experiência em modelar um ambiente próprio customizado em colaboração com o Vik Muniz Studios. O espaço apresenta em realidade virtual a exposição Museum of Ashes do artista plástico Vik Muniz, fisicamente montada em 2019 na Sikkema Art Gallery, em New York, exibindo obras de arte elaboradas pelo artista com detritos resgatados dos escombros do incêndio do Museu Nacional.
Arqueoverso - Quinta da Boa Vista: modelado em ambiente customizado, o espaço permite uma visita às escavações arqueológicas realizadas durante o processo de recuperação do Palácio de São Cristóvão após o incêndio.
Lapa da Zilda em Carrancas-MG: montado em template Outdoors do Spatial, esse espaço tem por objetivo propiciar aos visitantes um passeio pelo sítio arqueológico da Lapa da Zilda no município de Carrancas, MG, com suas cavernas e pinturas rupestres.
Infinite Space: elaborado em ambiente customizado que remete a uma viagem futurista ao espaço, os visitantes caminham por uma ponte de vidro em formato de loop infinito, rodeados de modelos tridimensionais animados de itens da coleção de meteoritos do Museu Nacional. Há ainda uma galeria em forma de plataforma espacial futurista onde são apresentados os painéis da exposição “Meteoritos, da Gênese ao Apocalipse”, que foi inaugurada no Museu Nacional em 2015.
lhas do Rio - MoNa Ilhas Cagarras: desenvolvida em ambiente customizado que reproduz a estrutura das Ilhas Cagarras no litoral do Rio de Janeiro (produzidas por meio de digitalização por fotogrametria das ilhas). O espaço foi desenvolvido em colaboração com a equipe do “Projeto Ilhas do Rio” e apresenta aspectos da fauna, inclusive submarina, do arquipélago. Os visitantes podem escalar as ilhas, “dar um mergulho” ao lado de peixes e tartarugas e “navegar” em barcos.
Dance Space: nesse espaço, montado em template Isle Gallery do Spatial , desenvolvido inicialmente para apresentação no Encontro 22+100 LABAN e o Projeto Modernista em Junho de 2022, foram utilizadas imagens, vídeos e fotografias dos trabalhos de Rudolf Laban, Irmgard Bartenieff e Helenita Sá Earp, expoentes das artes da dança e do movimento. Além disso, foram inseridos modelos tridimensionais dos sólidos platônicos utilizados por Laban em suas escalas e um avatar dançante (produto do trabalho conjunto de Bernardo Alevato e Taiane Lobo), dentro do sólido octaedro.
Sala Indiana: modelado em ambiente customizado, o espaço constitui atividade paralela ao programa de doutoramento de Thaisa Martins e se destina a apresentar aspectos relacionados à estrutura arquitetônica de um templo indiano. O espaço se encontra em elaboração e serão apresentados modelos representando diferentes características relacionadas às oito danças clássicas indianas.
MusasMN: montado em template Outdoors do Spatial, esse espaço tem por objetivo apresentar os modelos tridimensionais de estátuas restauradas após o incêndio de 2018 e que ornamentam o topo da fachada frontal do Palácio de São Cristóvão, sede do Museu Nacional/UFRJ.
Arqueoverso - Experiência Cerâmica Grega: modelado em ambiente customizado, o espaço foi desenvolvido objetivando apresentar material didático de modo a permitir a familiarização dos visitantes aos processos de criação dos distintos utensílios em cerâmica desenvolvidos pela cultura grega. A sala serviu de apoio às aulas da disciplina “Análise Iconográfica Grega Antiga” do Curso de História da UFRJ.
conclusion
A utilização de plataforma de disponibilização de conteúdos tridimensionais no metaverso através do desenvolvimento de espaços destinados à difusão e popularização do patrimônio científico-cultural vinculado às atividades de ensino, pesquisa e extensão do Museu Nacional/UFRJ possibilitou a abertura de novas vertentes de pesquisa e difusão científica e artística. A escolha da plataforma marcou o início na exploração do ambiente de Realidade Virtual, esse importante meio de interação que, cada vez mais, assume vital relevância no avanço das metodologias de difusão da ciência e do conhecimento. O uso da plataforma Spatial inicialmente atendeu plenamente aos objetivos pretendidos. No entanto, com o passar do tempo, a plataforma implantou uma série de restrições que dificultaram, ou mesmo impediram, o acesso a determinados espaços. No momento, a equipe estuda formas de contornar essas restrições ou mover os arquivos para plataformas alternativas que permitam a difusão irrestrita dos conteúdos. •
Referências
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VELHO, L.; LOPES, J.; AZEVEDO, S.; ALEVATO, B.; RIBEIRO, G.; DUARTE, M. & ARCOVERDE, V. – Spece XR: Plano de Pesquisa. Technical Report TR-22-01, IMPA/MCTI. Disponível em: http://space-xr.com/wp-content/uploads/2022/01/tr-01-2022-s.pdf Acesso em: 24/04/2025.
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