A cirurgia moderna enfrenta desafios devido à complexidade anatômica dos órgãos, especialmente em áreas como o fígado, onde a intricada rede vascular torna cada movimento crítico. A previsibilidade cirúrgica, assegurada pelo mapeamento detalhado dos segmentos hepáticos, visa evitar danos vasculares. Os avanços tecnológicos transformaram as reconstruções 3D pré-operatórias em uma ferramenta poderosa, permitindo que cirurgiões antecipem as condições da sala de cirurgia. Atualmente, a realidade aumentada (RA) e a realidade virtual (RV) oferecem soluções inovadoras para preencher a lacuna entre planejamento e execução, aprimorando a compreensão e contextualização do cirurgião das estruturas anatômicas diretamente no campo de visão.

A preceptoria médica, que envolve prática supervisionada integrada ao treinamento de residentes, destaca-se como elemento crucial para o desenvolvimento de habilidades clínicas e cirúrgicas, alinhando experiência do mundo real com feedback prático. O uso de tecnologias 3D físicas ou digitais adiciona uma nova camada à educação médica ao possibilitar a visualização de exames, oferecendo uma compreensão mais profunda das estruturas anatômicas e suas relações espaciais.
A integração da preceptoria tradicional com ambientes de RV apresenta aspectos complementares. No contexto presencial, a supervisão direta permite a observação detalhada do procedimento e feedback imediato. Sob este modelo, residentes observam, executam sob supervisão e posteriormente ensinam, fomentando o desenvolvimento de habilidades progressivas. No ambiente virtual, a experiência imersiva proporciona um espaço seguro para prática, permitindo que residentes cometam erros sem risco ao paciente e repitam procedimentos múltiplas vezes. Isso supera limitações do mundo real como disponibilidade de tempo e recursos. Assim, combinar essas abordagens otimiza o aprendizado e oferece treinamento mais abrangente e eficaz.

No primeiro experimento pré-operatório, o fígado foi reconstruído em 3D, com todos os oito segmentos hepáticos e sua vascularização claramente identificados para facilitar o planejamento cirúrgico. Durante a atividade, o preceptor supervisionou no computador enquanto os residentes manipulavam o modelo 3D em RV, apresentando suas abordagens e justificativas. O feedback fornecido pelo cirurgião destacou os acertos e erros dos residentes, promovendo o aprimoramento de suas habilidades.



No experimento subsequente, apresentando um simulador de cirurgia hepática, os residentes foram primeiro introduzidos aos controles. Em seguida, executaram o procedimento no modelo 3D do fígado, enfrentando desafios anatômicos. Posteriormente, praticaram técnicas individualmente, como o uso do eletrocautério e contornamento da vasculatura. No entanto, a falta de simulação da tensão abdominal prejudicou o realismo. Mesmo assim, o aspecto social do metaverso para discussão de casos provou ser valioso para introduzir procedimentos futuros, embora a simulação prática tenha falhado em reproduzir fielmente a experiência cirúrgica.
Avançando, exploramos um experimento integrando essas inovações diretamente no ambiente intraoperatório, permitindo o uso da realidade aumentada (RA) durante procedimentos cirúrgicos. O projeto foi viabilizado pela tecnologia disponível: o HoloLens 2, lançado em 2019, representou um grande avanço em dispositivos de RA. A pandemia de COVID-19, que começou em 2020, acelerou a adoção de tecnologias remotas. Enquanto isso, o Facebook—renomeado Meta—lançou o Quest 2 em 2021, e a Microsoft introduziu o Microsoft Mesh, fortalecendo a interação digital imersiva.
Três tipos de visualizações foram desenvolvidas para resolver o problema da não oclusão das mãos do usuário no headset, que poderia prejudicar o procedimento. Uma versão tinha parênquima e vasos transparentes; outra exibia uma estrutura de arame do parênquima, permitindo a visualização das mãos junto com a sobreposição virtual; e uma terceira mostrava apenas estruturas vasculares, usada ao ancorar o objeto virtual. Um segundo operador alternava entre essas visualizações conforme necessário. O dispositivo foi usado principalmente no início do procedimento, após abertura e exposição dos órgãos, para identificar a vasculatura relevante. A opção de levantar e abaixar o visor facilitou a verificação do conteúdo do HoloLens, permitindo que o cirurgião operasse com a viseira levantada na maior parte do tempo.

Para projetos futuros que abordem este mesmo tópico, pode ser importante adicionar outras funcionalidades, como a capacidade de visualizar e interagir com imagens médicas em realidade aumentada. Além disso, a interação remota entre médicos—permitindo colaboração em tempo real através de anotações e sobreposições na visão do cirurgião—poderia ser benéfica. Esses avanços ajudarão a aumentar a precisão dos procedimentos e otimizar o trabalho em equipe, melhorando em última instância os resultados cirúrgicos.
